Aquela pessoa é boa ou má? Aquele ato é bom ou ruim? Você se sente confortável em julgar?

Percepção... se por magia, me oferecerem a oportunidade de escolher um poder para melhorar minhas relações com as coisas e as pessoas, sem titubear, escolherei a PERCEPÇÃO... ao aguçá-la, sem medo de errar, torno o amargo mais palatável. Na psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Segundo Gestalt a percepção é a captação de estímulos do ambiente e a interpretação que fazemos desses estímulos pela compreensão de um todo.  Por este motivo, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si própria. A filosofia sustenta a ideia que o ser humano cria um modelo mental de como o mundo funciona, e isso é diferente conforme as informações que recebe, a cultura e região onde habita. Quando novas informações são adquiridas, nossa percepção se altera, e isso não é substituído, mas sim incluso, somado. Meu desejo é agigantar a habilidade de perceber no outro sentimento, temores. Perceber o outro exige questionarmos a nós mesmo. Já dizia o pensador “A única certeza que temos é a incerteza”. Quando você tiver certeza de uma coisa, busque outra maneira de olhar para ela. Criticamos atitudes dos outros de acordo com que consideramos correto. Julgar é mais fácil do que tentar entender o que provocou essa atitude que condenamos. O relacionamento entre pessoas no Ubuntu preza pelo respeito com o outro e acredita que não há felicidade se outro está triste, “Eu sou porque nós somos”. 

A pergunta ainda ecoa... o que é bom? O que é ruim? O Césio é um elemento químico utilizado na construção de relógios atômicos de altíssima precisão, na indústria de energia nuclear, também é usado no tratamento do câncer, em aparelhos de radioterapia e na química orgânica... entre outras utilidades. No entanto, em Goiânia, no dia 13 de setembro de 1987, dois jovens catadores de materiais recicláveis abrem um aparelho de radioterapia em um prédio abandonado. Eles pensavam em obter algum lucro desmontando o aparelho e vendendo o chumbo e metal que encontraram. Ignoravam que daquela cápsula de chumbo continha Césio, um metal radioativo. Como imaginar que aquele material lindo, de brilho azul intenso era letal... algumas pessoas passaram as partículas do pó na pele, aquilo brilhava no escuro, era belíssimo. As sequelas dessa tragédia perduram até os dias de hoje.

O Césio é bom ou ruim? O conflito é ambíguo. Assim como as pessoas, o julgamento de quem é bom ou ruim está no olhar do outro. Todos somos bons e ruins, todos já praticamos atos bons e ruins, mas a questão não é essa... e sim: o que é bom ou ruim? Os personagens de Shakespeare têm momentos de bondade e momentos de maldade, assim como nós. Atire a primeira pedra quem nunca..., mas o que é mau está no julgamento de cada um. Jacob Levy Moreno escreveu: “Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus”.

Percepção para trabalhar todo o exposto. Não existe nenhuma magia para dar o poder da percepção, mas existe uma ferramenta multitarefas denominada Arte. Ela cativa e exala o doce contido em cada ser. Arte contém estética e criatividade e sua prática expõe o que há de sensível no indivíduo, uma melhor percepção do que o enaltece. Educar é possibilitar exalar esse doce. Entendo que educar e perceber estão intimamente ligados e se o educador perceber no educando o que o conecta com o universo a garantia de sucesso é maximizada.

O filósofo pensador John Dewey, que influenciou educadores de várias partes do mundo, defendia a eficácia quando se educa como um todo, a importância do crescimento físico, emocional e intelectual, repertório que encontramos amplamente nas artes. Propiciar a busca do prazer e o exercício da sensibilidade. A arte idealizada por Dewey é colocada como uma experiência acima do bem e do mal. Percebe?