PALHAÇO
para trabalhar inquitações
O riso é cruel. Quando rimos de algo, alguém amarga uma situação. Vamos fazer aqui uma diferença entre as palavras riso e sorriso... Você pode sorrir para uma bela cena, como por exemplo uma mãe amamentando, mas o que te faz rir? Geralmente o riso é provocado pelo grotesco, o ridículo, a ignorância.
A mãe amamentando não possui elementos para desencadear uma risada ou gargalhada, o máximo um sorriso, mas alguém tropeçar ou falar algo errado pode ser, para muitos, uma coisa risível. Quando se estuda para ser palhaço ou palhaça, significa ir de encontro ao ego, ou seja, dar visibilidade as coisas que se procura ocultar, deixar na sombra.
Despertar o palhaço ou a palhaça que te habita, é agigantar aquilo que você contém, mas repudia, aquilo que deseja minimizar para não ser notado. Imagina o que se trabalha o psique para externar aquilo que se pretende esconder... O palhaço ou palhaça só chega na sua exelência quando atinge esse estágio de compreenção, e assim se torna risível e o riso apesar de cruel é algo extremamente prazeroso. Tudo em troca do riso.
Segundo a wikipédia, a enciclopédia livre, a palavra palhaço deriva do italiano paglia, que quer dizer palha, que era o material usado no revestimento de colchões. O nome começou a ser usado porque a primitiva roupa desse cômico era feita do mesmo pano e revestimento dos colchões: um tecido grosso e listrado, e afofada nas partes mais salientes do corpo com palha, fazendo de quem a vestia um verdadeiro "colchão" ambulante. Esse revestimento de palha os protegia das constantes quedas e estripulias. Já a palavra clown é de origem inglesa e tem origem no século XVI. Deriva-se cloyne, cloine, clowne. Etimologicamente vem de clod, que em inglês significa "camponês" e ao seu meio rústico, a terra.
O palhaço é lírico, inocente, ingênuo, angelical e frágil.
O palhaço não interpreta, ele simplesmente é.
Ele não é um personagem, ele é o próprio ator expondo-se, mostrando sua ingenuidade. Na busca desse estado, o ator não busca construir um personagem, mas sim encontrar essas energias próprias, tentando transformá-las em seu corpo. Portanto, cada ator desenvolve esse estado pessoal, de palhaço, com características particulares e individuais.
Fellini explana que o clown é como a sombra, ele “encarna os traços da criatura fantástica, que exprime o lado irracional do homem, a parte do instinto, o rebelde a contestar a ordem superior que há em cada um de nós. É uma caricatura do homem como animal e criança, como enganado e enganador. É um espelho em que o homem se reflete de maneira grotesca, deformada, e vê a sua imagem torpe. É a sombra. O clown sempre existirá. Pois está fora de cogitação indagar se a sombra morreu, se a sombra morre. Para que ela morra, o sol tem de estar a pique sobre a cabeça. A sombra desaparece e o homem, inteiramente iluminado, perde seus lados caricaturescos, grotescos, disformes.
Diante duma criatura tão realizada, o clown, entendido no aspeto disforme, perderia a razão de existir. O clown, é evidente, não teria sumido, apenas seria assimilado. Em outras palavras, o irracional, o infantil, o instintivo já não seriam vistos com o olhar deformador que os torna informes.”
Para Jung “a sombra abarca além dos complexos, conteúdos esparsos que correspondem a percepções subliminares, isto é, aqueles que compõem as situações vividas, mas de maneira que não atingem o patamar mínimo para serem assimilados pela consciência. A sombra é a companheira inevitável da consciência, a qual é equiparada com a luz que ilumina e permite discriminações mais acuradas. A sombra dá conta daquilo que o ego não assimila nas vivências pessoais, e mantém tais conteúdos a uma certa distância dele, mas com a possibilidade de virem a se tornar conscientes no futuro.
Enquanto instância psíquica, ela é fundamental, em si um arquétipo, coadjuvante a todo momento do funcionamento da consciência que é, inerentemente, limitado. Pode-se considerar, também, uma sombra arquetípica, responsável pelos conteúdos humanos gerais, que a cultura não consegue assimilar à consciência coletiva.
Cada um de nós tem conteúdos que dificilmente alcançarão o limiar da consciência. Além disso, a relação da sombra com o ego é intensamente dinâmica e presente ao longo da vida. Embora ele não possa considerá-la de maneira a reconhecer seus conteúdos, ela se mantém presente e operante o tempo todo.”